domingo, setembro 11, 2011

FÁBULA




O falcão, o corvo e a gralha


Houve um falcão que ao descer à campina conheceu um corvo e uma gralha adotando-os como companheiros. Essa relação com duas criaturas que não eram da sua espécie chegava a incompatibilizá-lo com os demais, haja vista a acentuada dose agourenta e intrigante que emanava dos dois corvídeos a torná-los rejeitados da comunidade passeriforme, sendo quase unanimidade que todos queriam distância daquela dupla. Mas, a recém-chegada ave dos ares passava por cima dessas rejeições, relevando as críticas de semelhantes e afins, certo de que sua comiseração àquelas duas estranhas criaturas as tornariam gratas e amigas, pois, afinal as tratava como nem seus familiares faziam. Mas, como quase tudo na vida é passageiro, quase nada é para sempre entre os humanos, assim haveria de ser para com os bichos. E quando paira a inveja e o recalque, traços típicos dos frustrados e medíocres, o resultado é sempre desapontador para quem acreditou na mudança. De repente, quando menos se espera, as deformidades de caráter emergem e os traços da natureza torpe dominam a criatura. Um dos corvídeos que já obtivera muito do falcão, não conseguindo mais segurar sua repulsiva natureza há tempos reprimida, voou para cima de uma árvore, mais que suas asas permitiam, mas não chegando a ultrapassar seu topo, dali soltou algumas pedras, que conseguira carregar com o bico e garras, na intenção preconcebida em muito de atingir o falcão, enquanto seu parceiro que sabia do plano indigno colocava-se próximo ao alvo em condições de empurra-lo para trajetória das pedras e vê-lo atingido, o que somente aconteceu de raspão. O comparsa tentou ainda convencer a vítima de que aquilo fora acidental e não um atentado. Mas o falcão despertou do torpor que fora acometido pela tentativa de mudar o imutável e, desconfiado, alçou seu voo natural, indo em direção às correntes de ar quente, onde ficou a planar, enquanto refletia sobre o que acabara de sofrer, indo para o seu verdadeiro habitat acima das montanhas, inalcançável para os dois comparsas que regurgitavam a acidez de impropérios há anos reprimida. A partir daí os dois parceiros passaram a grasnar todo tipo de ofensas aquele pretenso parceiro de uma relação inadequada fadada a acabar um dia, o que muitos já previam ocorrer, mas não tão danosa a ave dos ares que agradecia aos céus mesmo que isso tenha ocorrido um tanto tarde, ter se livrado das duas companhias indesejáveis e que por algum tempo chegou a pensar amigas. E assim enquanto o falcão retornou ao lugar de origem, com intermináveis passeios aéreos, os dois frustrados continuaram a jungir suas ínfimas forças lançando tudo aos seus alcances para tentar atingir o falcão, definindo isso como o único objetivo de suas toscas ações e de suas insossas vidas. E o falcão olhando de cima não lamenta o tempo perdido com os dois invejosos, pois aprendeu uma lição e que se tal não acontecesse estaria ainda distante de sua própria natureza para agradar dois ingratos, mas aliviado por estar livre de uma relação que agora sabe que nunca iria dar certo.



2 comentários:

Bijugol disse...

MARAVILHA ! GOSTEI MUITO, PURA VERDADE...
A DEMASIADA ATENÇÃO Q SE DEDICA A OBSERVAR OS DEFEITOS ALHEIOS, FAZ COM Q MORRA SEM TER TIDO TEMPO DE CONHECÊ-OS PRÓPRIOS.
SAIU A TEMPO FALCÃO, NUNCA É TARDE.
A PAZ DE CRISTO !!!!!!!!!!
UM BEIJO NO CORAÇÃO DOUTOR !!!!!!!

ROBERTO PIMENTEL disse...

Meu caríssimo Biju,

A amizade é um sentimento que nasce espontâneo, sem imposições ou interesses mesquinhos e que assim, traz a qualidade de imarcescível, portanto, não podendo sucumbir diante de qualquer interesse vão ou da ignomínia. O contrário é apelido. Tudo, menos amizade. Aliás, Salomão em seus provérbios disse que “... há amigo mais chegado do que um irmão” (18:24). Que DEUS continue nos abençoando. Abraço fraterno a você e a todos com os quais nos congraçávamos.

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