segunda-feira, agosto 27, 2012



 
 
As escolhas do cara
 

As escolhas de quem já foi até referido pelo presidente americano como “o cara” tem motivado análises profundas, reflexões e manifestações para todos os gostos das quais me arvoro a associar-me. E elas continuarão indefinidamente. A história assinala escolhas esquisitas como a de um imperador romano nomeando seu cavalo senador. Nossos contemporâneos também surpreendem nas escolhas. Na década de oitenta, segundo contou um colega, o titular da secretaria estadual onde ele trabalhava, trocou a chefa de gabinete por um modesto servidor sem importar-se com as críticas e consequências. O então secretário era um grande empresário ainda neófito na política, mas contribuíra sobremaneira para a eleição do governador que o escolhera para dirigir um órgão estratégico. Logo nas primeiras semanas de gestão ele implicou com a senhora que chefiava o gabinete, uma exemplar e experiente servidora que vinha atuando naquele setor há vários anos. Em sua implicância acabou por demiti-la do cargo em comissão. Como aquele secretário ainda não possuía a legião de áulicos que quase todo dirigente de alto escalão possui, ele substituiu a servidora que atuara em diferentes gestões pelo primeiro nome que lhe deu na telha, escolhendo um obscuro servidor já cinquentão, sem formação superior e nem aptidão técnica. Calunga era o apelido do tal servidor que, de motorista do secretário em seus deslocamentos oficiais e extraoficiais surgiu como o novo chefe de gabinete. De como ele se portaria, fazendo engenheiros, técnicos e outros servidores de nível superior a chama-lo de chefe, pois no organograma daquela secretaria o ocupante daquele cargo era a segunda pessoa do secretário, isso é outra história. Mas esse fato serve para ilustrar o que acontece às vezes com alguns dirigentes do poder público, principalmente, presidentes, governadores e demais agentes políticos e seus auxiliares diretos, ministros e secretários, tomando atitudes extravagantes beirando ao desvario, fazendo escolhas estranhas, absurdas, inexplicáveis, sem se importar com os irreparáveis prejuízos que possam resultar da excêntrica escolha. No fim quem paga a conta é o povo. Vejo às vezes alguns órgãos públicos como uma empresa em constante estado falimentar e que só não acaba de vez porque o erário continuará abastecê-los de recursos, funcionem bem ou mal. Essas atitudes resultam de motivos diversos, seja como a autoafirmação de seu autor, excesso de vaidade ou até mesmo incapacidade ou irresponsabilidade com a coisa pública. Se a escolha vai dar certo ou não, se não é do consenso dos circunstantes, se o escolhido não possui aptidão, experiência e outros atributos para desempenhar com êxito determinado cargo isso não conta, o que por certo não aconteceria ou não acontece com uma empresa da iniciativa privada que tem seu desempenho fundado no mérito.  Assim aconteceu e acontece com Lula. Tantos foram os companheiros de partido que já ocuparam e ocupam setores estratégicos da administração pública, incluindo autarquias e empresas públicas. Assim foi nos ministérios, na Petrobras, na Caixa Econômica, no Banco do Brasil, como agora veio à tona e está em exposição com o julgamento do mensalão. A atual presidente quando escolhida candidata surpreendeu analistas políticos, assim como todos que acompanham os bastidores políticos, surpreendeu aliados e integrantes do partido e desagradou aqueles que esperavam serem os escolhidos. Como escolher para concorrer ao mais alto cargo republicano alguém que nunca concorrera sequer para síndico de edifício? Mas, contra tudo e contra todos, “o cara” escolheu uma pessoa que inicialmente começou nas pesquisas com apenas um dígito, considerada um poste ante sua inexpressividade, e que próximo da eleição do primeiro turno já atingira o índice necessário para a disputa do segundo, saindo vencedora. Sua consagração nas urnas certamente quintuplicou a autoconfiança do doutor honoris causa mais badalado do momento. Ele certamente considera-se espécie de Midas (o mitológico rei que em tudo que tocava virava ouro), achando que pode colocar quem quiser para assumir qualquer que seja o setor ou cargo. Agora mesmo ele voltou a surpreender com a indicação e imposição do candidato à prefeitura de São Paulo, jogando-se de corpo e alma em sua campanha, mesmo saindo de um recente tratamento médico. Para tanto fez pacto com um histórico adversário a quem acusou de corrupto e de adjetivos relacionados a sua censurável conduta na vida pública, tudo para obter seu apoio ao mais novo ungido que por enquanto está muito aquém dos que lideram as pesquisas de intenções de voto. Mas, se as coisas ocorrerem como ele aspira, seu toque magistral irá mais longe ainda para escolher no futuro quem quer que seja para qualquer que seja o cargo republicano. Não interessa o desempenho do escolhido, apenas que será quem ele quiser. E seja qual for o resultado dessa empreitada virão lições inolvidáveis.

 

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